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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

10.- E isto eu nunca tinha pensado.


ANO
 11
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3214

Na última segunda-feira, 03 de outubro, houve mais uma conferência no Fronteiras do Pensamento. Foi uma atividade da qual se sai grávido interrogações. E mais, quando depois de uma hora de oitiva nos dizemos: “acerca disso eu nunca havia pensado!”
O conferencista de então foi o alemão Peter Sloterdijk, um dos mais conhecidos e lidos filósofos na contemporaneidade. Considerado um dos renovadores da filosofia atual, é autor de Crítica da razão cínica, lançado em 1983 e que se tornou o maior best-seller alemão de filosofia desde a Segunda Guerra Mundial. Seu título mais recente é O que aconteceu no século XX, sem publicação no Brasil e que traz ensaios sobre globalização. Sistemas imunológicos, domesticação, selvageria e a cultura dentro do contexto da teoria da evolução foram os principais temas de sua conferência no Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre.
O filósofo iniciou sua fala contextualizando que, nos dias atuais, é possível defender a tese de que a história inteira da humanidade seria uma história de lutas por vantagens imunológicas. Neste sentido, a vida individualizada (ou biós, do grego) pode ser caracterizada como uma fase de sucesso de sistemas imunológicos. Ou seja: seguindo a definição da biologia sistêmica, não pode existir uma forma de vida que não se preocupe com a conservação de suas estruturas imunitárias. “Se citarmos a afirmação metabiológica segundo a qual sistemas imunológicos seriam incorporações de expectativas de lesões ou expectativas de algum dano, fica claro que as culturas humanas, na medida em que essas representam a totalidade de procedimentos preventivos — ou, podemos dizer, as tradições —, são elaboradas com maior sensibilidade contra imunidade do que as espécies animais e vegetais. E nem todo mundo sabe que o conceito da imunidade originalmente não foi um conceito biológico, mas sim jurista, que foi utilizado como metáfora na biologia”, explicou.
[...] No século XX, emergiu uma nova definição para a condição humana e que partia, principalmente, do entendimento de que as categorias da evolução não seriam suficientes para descrever domesticações necessárias. Tanto de animais domésticos quanto do rei dos animais domésticos, o ser humano. Os indivíduos se aproveitam de um clima semicultural criado e adaptado. Assim, não sobrevivem os mais adaptados à natureza externa, mas os que possuem a melhor capacidade de aprendizado e sociabilidade e as vantagens bioestéticas.
Os mamíferos que cuidam da prole impõem um alto padrão de segurança e cuidados com os filhotes. Nestes seres vivos, os filósofos observam um complexo de características descrito, desde o final do século XIX, como neotenia. Ou seja, a fixação de propriedades de juventude. “A prematuridade humana é um termo técnico cunhado por Adolf Portmann, filósofo e biólogo em meados do século XX, para colocar a neotenia no centro da nova antropologia.” Assim, a fase juvenil no ciclo de vida humana se prolonga excessivamente e um jovem precisa de 20 anos de educação para poder se integrar na vida social.
Para Sloterdijk, o ser humano deve ser compreendido como um sujeito cultural desde as suas etapas elementares. “A cultura como um todo funciona como uma grande incubadora. O termo em inglês seria incubator. Que se coloca sobre os seus membros. Nesses termos, todas as culturas são sistemas solidários como contêineres, e todos os contêineres culturais são comunidades protetoras às quais atribuímos características de sistemas imunológicos.” E, devido à sua extrema neotenia, é preciso compensar as perdas que o homo sapiens sofreu. Os psicólogos modernos já alertam para os perigos do enfraquecimento da figura da autoridade nas sociedades pós-modernas.
[...] Sloterdijk finalizou retornando à pergunta: a humanidade sabe se domesticar? Uma resposta que, para ele, precisa ser dividida em duas partes. “A primeira seria: se essa autodomesticação deverá ser esperada para o futuro próximo. A resposta é claramente não. Com muita probabilidade, a primeira metade do século XXI deve lembrar os excessos do século XX. Estamos hoje numa situação que lembra o ano de 1914. As perdas de vida podem crescer infinitamente, e os danos para a cultura serão incalculáveis. Podemos ver as destruições no Oriente Médio, na Europa. Isso mostra em que direção o desenvolvimento está indo.”
A segunda parte da resposta se concentra na perspectiva a longo prazo, que, segundo ele, deve ter uma avaliação positiva. “Se for possível controlar ambos os explosivos biológicos das culturas humanas, ou seja, os programas de estresse polemofílicos e os programas de reprodução excessivos nas culturas individuais a longo prazo, o prognóstico para o processo da autodomesticação global certamente será positivo. Sob a pressão das coerções da coexistência global, a solidariedade entre as culturas poderia algum dia equilibrar a competição acirrada entre elas.”
Apossei-me na produção desta edição de excertos de um bem elaborado resumo da conferência produzido por Luciana Thomé que pode ser acessado na integra em www.fronteiras.com/resumos

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