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quarta-feira, 14 de maio de 2014

14.- ACERCA DE CONCHITA E MORCILHA

ANO
 8
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
EDIÇÃO
 2773

Mais uma blogada que se tece a partir de minhas atividades docente. Todavia esta é, talvez, a mais original. Jamais me imaginava trazer o assunto para sala de aula e muito menos, na esteira desta ação, trazê-lo para este blogue.
Mesmo que o edificante relato de ontem — a sabedoria de Rita Levi-Montalcini, que com emoção nos recomenda ter emoções — e o de hoje sabem às aulas de segunda-feira, os dois temas são díspares. Permito-me recordar que saber a significa ter sabor ou gosto.
Já comentei, aqui, que neste semestre, ministro aulas de Teorias do Desenvolvimento Humano para duas turmas de licenciatura em Música. De uma maneira muito continuada esclareço aos alunos (a grande maioria músicos que vem a universidade para serem professores de Música) meu quase total analfabetismo musical.
Nesta segunda-feira. Abri as aulas nas duas turmas, dizendo que pela primeira vez, aventurar-me-ia a trazer uma questão de música: Quem é Thomas Wurst? Ante o silêncio total, disse que o personagem em questão também era conhecido por Conchita. O desconhecimento total continuou. Disse que daria uma dica: até ontem (domingo) pela manhã eu também desconhecia. Relatei a surpresa, que determinou a trazida o assunto para a sala de aula. Esta ocorreu quando soube do resultado do 59º Festival Eurovisão da Canção — que para a Gelsa e para mim se tornou muito próximo em 2001, quando vivemos na Espanha — com uma muito significativa ruptura de um paradigma. Então o assunto se tornou familiar aos alunos.
Nascida em 1988 com o nome Thomas Neuwirth, Conchita Wurst venceu o Eurovisão com uma balada clássica, no estilo das músicas dos filmes de James Bond dos anos 1960, Rise Like a Phoenix. Conchita Wurst, o travesti austríaco que venceu o Festival Eurovisão da Canção, cuja final se disputou no sábado em Copenhagen, na Dinamarca, regressou neste domingo ao seu país e foi recebido no aeroporto de Viena por mais de um milhar de fãs, alguns deles com barbas falsas pintadas na cara, que gritavam palavras de apoio, fotografavam a "diva" e lançavam ao ar mãos-cheias de purpurinas.
Alguns traziam bandeiras da Áustria, outros bandeiras com o arco-íris da comunidade homossexual. A cantora posou para as câmaras de televisão, mostrando o troféu que trouxera da capital dinamarquesa.
O Presidente austríaco, o socialista Heinz Fischer, afirmou, numa declaração escrita, que o triunfo de Conchita Wurst “não é apenas uma vitória para a Áustria, é o antes de tudo algo em prol da diversidade e a tolerância na Europa”.
A generalidade dos partidos políticos austríacos seguiu o exemplo presidencial e também saudou o triunfo da intérprete, e mesmo a extrema-direita do FPÖ [Partido da Liberdade Austríaco], que classificara como “ridícula” a representação do país na Eurovisão, teve agora de reconhecer que “é da ordem das coisas que as pessoas se regozijem quando há uma vitória”.
Thomas Neuwirth, que se refere a si próprio no feminino quando assume a personagem de Conchita Wurst (wurst é a palavra alemã para morcilha ou, mais genericamente, para embutido; mas em austríaco a expressão significa "não quero saber"), apresentou-se em palco com um visual de diva — vestido comprido, cabelos longos e maquilhagem pesada —, ao qual somou uma barba e bigode.
A Áustria não vencia o Festival Eurovisão da Canção desde 1966, quando Udo Jürgens conquistou o primeiro lugar em Luxemburgo, com a canção Merci Cherie. Apesar do título francês, o tema era cantado em alemão. Tinha mesmo que ser, já que nesse ano entrou em vigor a regra que obrigava os concorrentes a cantar na língua oficial do seu país. A alteração, que foi imposta pelos protestos de alguns países contra o fato de a Suécia ter apresentado, em 1965, uma canção interpretada em inglês, deve estar fazendo sorrir os que assistiram a esta última edição do festival, no qual constituíram exceção os temas que não foram cantados em inglês.
É muito bom ver se esboroar paradigmas conservadores. Melhor, ainda, saber que preconceitos são superados.

6 comentários:

  1. Mestre chassot
    t, seria surpresa sua trazida deste assunto não fosse o destaque que o senhor confere a fala do presidente da Áustria e o encerramento de seu texto, quando o senhor saúda a quebra de paradigmas vencendo preconceitos, especialmente aqueles relacionados com as opções sexuais.
    Como seus alunos eu também não conhecia o Thomas ou a Conchita. Os conheci na leitura deste blog que é quase meu maná intelectual de cada dia.
    Obrigado
    Mirian

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  2. Acho muito válida o reconhecimento do artista, mas tenho uma ressalva a fazer sobre o tema. Todo preconceito deve ser repreendido e banido dos nossos procedimentos, porém devemos ter cuidado com a exaltação exagerada as minorias que sofrem essa discriminação. Pois tal exagero passa a falsa premissa de que o indivíduo merece todo louvor apenas por ter essa tal característica fazendo até de certa forma ter-se a impressão de que todos os outros estariam errados só por ter escolhas ou etnias diferentes.

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    1. Meu caro Antônio Jorge,
      teu alerta é válido. A exaltação pode conduzir a discriminação. A política de cotas (que defendo às ultimas instâncias), por exemplo, pode ser discriminatória. Claro que se o/a vencedor(a) da Eurovisão não fosse exótica não teria essa repercussão.
      O comentário da Mirian, faz sentido enquanto mostra uma aprendizagem no quebrar paradigmas e aprender superar preconceitos e conviver com diferenças.
      Obrigado por tua importante presença aqui.
      A admiração do ac

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  3. Iguais

    É hora da sociedade tomar jeito
    Então em nome da humanidade
    Reconhecer a todos seu direito
    E respeitar direito à diversidade.

    Porque nascemos todos iguais
    E cada um assume sua opção
    Pois também aos homossexuais
    Não tenhamos qualquer objeção.

    Aqui vivamos e deixemos viver
    Os que querem ser diferentes
    Assim mundo no futuro vai ser
    Lugar muito menos oprimente.

    E muito mais justo vale dizer,
    Fraternidade entre as gentes.

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  4. E assim caminha a sociedade, quebrando paradigmas, superando ideias preconceituosas.
    A natureza é diversa. O mundo é diverso. Salve a diversidade.
    Ganha a música. Perde a intolerância. É de admirar.

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  5. Para min é como uma diversão musical. Gostei porque foi com música clássica.
    Luvander.

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