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domingo, 30 de março de 2014

30— OUTRA CARTA DE AMOR


ANO
 8
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EDIÇÃO
 2728

Depois da carta de amor de Freud para sua noiva trazida ontem, neste domingo, a resposta de Martha Bernays Freud (Hamburgo, 26 de julho de 1861 – Londres, 2 de novembro de 1951) foi a segunda filha de Emmeline e Berman Bernays. Seu avô paterno foi Isaac Bernays, rabino chefe de Hamburgo. Sigmund e Marta se conheceram em abril de 1882. Após quatro anos de noivado (1882-1886), eles se casaram em 14 de Setembro de 1886. As cartas de amor trocadas durante seu noivado, de acordo com o biógrafo oficial de Freud, Ernest Jones, que leu todas as cartas, "poderiam ter sido uma grande contribuição para a boa literatura romântica mundial". uito provavelmente leitoras e leitores deste blogue hão de concordar. Martha Bernays Freud (Hamburgo, 26 de julho de 1861 – Londres, 2 de novembro de 1951) foi a esposa do psicanalista austríaco Sigmund Freud.
Martha foi a segunda filha de Emmeline e Berman Bernays. Seu avô paterno foi Isaac Bernays, rabino chefe de Hamburgo.
Sigmund Freud e Marta se conheceram em abril de 1882. Após quatro anos de noivado (1882-1886), eles se casaram em 14 de Setembro de 1886.
As cartas de amor trocadas entre Freud e Martha durante seu noivado, de acordo com o biógrafo oficial de Freud, Ernest Jones, que leu todas as cartas, "poderiam ter sido uma grande contribuição para a boa literatura romântica mundial". Vejam a carta a seguir.
30.8.1882 10h45min da noite
Amado e querido,
as profundezas da minha alma percorre, como silenciosa prece noturna, um doce pensar em ti.
Você certamente conhece os encantadores e tristonhos Schilflieder (Cânticos dos Juncos) de Lenau, meu amado? Imagine que estou sozinha (só John está sentado à minha frente, desenhando). Os outros foram, todos, a mais um casamento, para o qual eu também tinha sido insistentemente convidada. Mas resisti bravamente e fiquei em casa.
Aquele que teria sido meu anfitrião é um senhor de boa índole, muito bem-humorado que certamente está indignado com o fato de eu ter declinado do convite. Creio que possa bem imaginar quem era, se fizer um pouco de esforço, certo, meu amado?
Pode rir-se de sua menina tão cheia de si. Eu estou contente por não ter ido e de não ter sido forçada a participar, mais uma vez, de toda aquela confusão, como no outro dia — e por poder, agora, pensar em você sem ser perturbada, e poder escrever para você, meu doce amigo.
À tarde tive a companhia de minha prima Anna, que veio me ver por estar com pena de mim, e que ficou até agora há pouco, e depois trabalhei no pequeno volume de cartas que prometi a você.
Seu doce nome está ali, assim como a data “conhecida”, para que não seja esquecida — ah!, meu amado, trata-se de uma oferenda humilde se comparada a todos os presentes preciosos que já ganhei de você, mas sei que você não faz contas comigo, e, assim que eu puder dispor de um pouquinho mais de sossego para mim mesma, você receberá um trabalho bem-feito, um verdadeiro “amor encarnado” de mim, sim, você está satisfeito com isso e conseguirá ter paciência suficiente?
Sim, agora John também já foi se deitar, agora eu estou totalmente sozinha. Faz-se um grande silêncio, a chuva murmura fora, monótona e melancólica, e dentro de casa nada se move.
Agora, meu amado — agora quero beijar você com o meu coração e sussurraria tantas coisas em seu ouvido que pareceriam tão tolas e loucas no papel — ninguém nos ouvia e ninguém nos via, e nem mesmo um esquilo curioso e envergonhado nos perturbava — , mas não quero sobrecarregar meu coração com pensamentos de como tudo poderia ser ainda mais bonito — eu amo você também de longe e me alegro como uma criança com suas doces cartinhas “pacíficas”- sim, isso também há de passar logo.
Há seis ou oito dias que me vejo obrigada a dirigir meus cânticos de alegria ou de lamento a um “mudo” — graças aos céus só “mudo”, mas não surdo, eu quase diria, não, e tampouco a um cego, pois você é capaz de ler o que eu escrevo, e então eu tenho total “liberdade de fala”, você nem mesmo tem a chance de brigar, quando você não está satisfeito, quando eu digo algo que não lhe agrada, que maravilha!
E, se por acaso ocorrer a você duelar comigo depois, isso também não será possível, e sua boca será fechada — você já sabe com o quê.
Ah, meu amado, meu único, nós vamos continuar a nos entender bem quando não houver 150 milhas a nos separar, não é verdade? (…)
E agora o novo endereço para as suas cartas, não consigo me acostumar a fazer seu nome ceder o primeiro lugar a um título. Sob qual ou junto a qual professor você se encontra agora, meu amado? E continua no departamento de cirurgia? E você está esperando se acostumar ao trabalho aos poucos, não é, meu amado, em vez de se atirar com todas as forças, outra vez, nessa nova atividade?
Me desculpe pela intromissão, mas fico tão feliz em saber que você está recuperado e saudável! Vamos permanecer assim, enquanto pudermos.
E agora boa noite. Acho que há muito já se passou a hora dos espíritos, e vejo que estou bem cansada. E me ocorre que já não vou receber a resposta a esta carta. Terrível!
Fique bem, meu amado, fique feliz e alegre como
sua Martha.
Tradução de Luis Krausz / Fonte Revista Cult

4 comentários:

  1. Uma das coisas em que as novas formas de comunicação altamente tecnológicas e rápidas nos tirou foi o prazer da escrita/leitura de cartas escritas à mão. Que bela nostalgia!!!

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  2. O que me inebria e ao mesmo tempo me entristece ao ler esses escritos é constatar como tínhamos cuidado com a língua culta, e o que os tempos cibernéticos a transformaram. Hoje talvez essa carta resumiria-se mais ou menos assim: amo vc tb tmj bjs vejo vc fds#s2

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  3. Cartas são como ostras, só quem as abre deverá come-las.

    Lembremos que bisbilhotar cartas
    Nos coloca no reino dos abelhudos
    Porquanto a curiosidade nos farta
    Por causa disso queremos saber tudo.

    Carta, veículo que leva intimidade
    A qual em certa hora abrimos mão
    Poderá abarcar alguma verdade
    Sobre o íntimo de nosso coração.

    Carta não deve ser lida por xereta
    Tampouco vagar livre pelo Planeta
    Ela tem endereço conhecido, certo

    E não será anunciada por trombeta
    Ou marcada com crachá ou plaqueta
    E ter conteúdo livre, a céu aberto.

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  4. Cartas de domínio publico?

    Quando se manda um carta a alguém
    O que se espera é que seja confidencial
    Independe do conteúdo que ela tem
    Nunca é como um documento trivial

    Para isso existe a tal carta circular
    A qual sem um único destinatário
    Circula livre e solta pra todo lugar
    Mesmo interceptada por corsário.

    Fiquemos com a confidencialidade
    Das carta que costumamos enviar
    As quais contém alguma intimidade.

    Que confissão seja só ao nosso par
    Ele nos escutará e sentirá saudade,
    Sem que sua mente precise vagar.

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