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terça-feira, 16 de julho de 2013

16.- A RESSUREIÇÃO DA MÁQUINA DE ESCREVER


ANO
7
Livraria virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
EDIÇÃO
2500

A notícia mereceu destaque nos jornais, no final da semana que passou. A agência responsável pela segurança das autoridades do Kremlin, a sede do governo russo, está comprando máquinas de escrever - uma ação que estaria associada a preocupações com vazamentos de informações sigilosas após os casos ligados ao WikiLeaks e às denúncias do ex-técnico da CIA Edward Snowden.
No Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto há um capítulo onde conto algo da história de meu escrever. Sou um homem da idade da pedra. Fui alfabetizado em uma lousa de ardósia onde se escrevia com estilete da mesma pedra. Hoje escrevo no tablete, que tem muita semelhança com a lousa. Nesta história narro acerca do uso da pena de aço e das canetas automáticas. A revolução na tecnologia de escrever para mim aconteceu em 1954, quando ganhei a minha primeira caneta esferográfica, invento ainda tão presente em nossas escritas, sessenta anos depois.
Minha primeira (e única) máquina de escrever foi uma Remington (semelhante a da foto), comprada com um dos meus primeiros salários de professor, em 1961. Esta foi doada em 1988 para o seu Valmir, zelador do prédio onde morava então. Foi quando comprei meu primeiro computador.
Mas a ressureição da máquina de escrever fez me evocar uma historinha muito saborosa escrita por Mário Prata que compartilho com meus leitores, para que se deleitam com A máquina "moderna"
Ouve só. A gente esvaziando a casa da tia neste carnaval. Móvel, roupa de cama, louça, quadro, livro. Aquela confusão, quando ouço dois dos meus filhos me chamarem.
- Mãe!
- Faaala.
- A gente achou uma coisa incrível. Se ninguém quiser, pode ficar para a gente? Hein?
- Depende. Que é? (Os dois falavam juntos, animadíssimos)
- Ééé... uma máquina, mãe.
- É só uma máquina meio velha.
- É, mas funciona, está ótima!
Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.
- Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um... teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que escreve?
- Sei.
- Então. Essa máquina tem assim, tipo... uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita...
Ela ia se animando, os olhos brilhando
- ... e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo!
É muuuito legal! Direto, na mesma hora, eu juro!
Eu não sabia o que falar. Eu juro que não sabia o que falar diante de uma explicação dessas, de menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever. Era isso mesmo?
- ... entendeu mãe?... zupt, a gente escreve e imprime, a gente até vê a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chata de entrar no computador, ligar, esperar hóóóras, entrar no word, de escrever olhando na tela, mandar para a impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito legal, e nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!
- Nossa, filha...
- ... só tem duas coisas: não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra, mas não tem problema. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem...
Eu parei e olhei, pasma, a máquina velha. Eles davam pulinhos de alegria.
- Mãe. Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para ninguém querer para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo! O máximo!
Bem, enquanto estou aqui, neste 'teclado', estou ouvindo o plec-plec da tal máquina, que, claro, ninguém da família quis, mas que aqui em casa já deu até briga, de tanto que já foi usada.
Está no meio da sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos 'impressos na hora' por eles. Incrível, eles dizem, plec-plec-plec, muito legal, plec-plec-plec.
Eu e o Zé estamos até pensando em comprar outras, uma para cada filho. Mas, pensa bem se não é incrível mesmo para os dias de hoje: sai direto, do teclado para o papel, e sem tomada!

2 comentários:

  1. Limerique

    As vezes algo que parece lixo
    E você joga fora por capricho
    Para gente que nunca viu
    Sequer sabe que existiu
    Esse objeto pode ser "o bicho".

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  2. A historieta nos remete a meditação, afinal em um mundo tão "moderno" vivemos as voltas com os entraves da evolução. Lembro-me de ir ao banco em dia de pagamento e me deparar com cinco até seis caixas freneticamente funcionando com um barulho estonteante das máquinas registradoras funcionando a todo vapor. Tínhamos nossos caixas preferidos, mais hábeis, e ficávamos "apostando" corrida com outros colegas que estavam em outras filas. Hoje temos um ou dois caixas no máximo, temos a famosa fila única e rezamos para não escutar o famigerado aviso: "O sistema caiu!"

    abraços

    Antonio Jorge

    Antonio Jorge

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