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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

29.- FICÇÃO CIENTIFICA & TEXTOS (DITOS) SAGRADOS



Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2219
Ontem, contei aqui, que nesta quarta-feira, à tarde devo ir a Santa Cruz do Sul, para participar de sua 25ª Feira do Livro. Falo em um painel: Ficção Científica e Ciência. Faço, com a parte dois de minha fala desta tarde esta blogada. Ela complementa o segmento trazido ontem, que falava nos longevos sonhos de voar.
Talvez, ficção e realidade se fundam em um desejo longevo dos humanos. Os sonhos primevos de voar da humanidade, numa leitura Ocidental se iniciaram, na mitologia grega, com Ícaro — com sua audácia em ousar nos planos estabelecido pelo pai de Ícaro, Dédalo, um talentoso e destacado artesão ateniense. Tentou deixar o seu exílio na ilha de Creta, onde ele e o seu filho estavam presos nas mãos de Minos, o rei para o qual ele havia construído o Labirinto para confinar o minotauro (metade homem, metade touro). Dédalo, o artesão-chefe, estava exilado porque deu à filha de Minos, Ariadne, um novelo de linha para ajudar Teseu, um inimigo de Minos, a sobreviver ao Labirinto e derrotar o minotauro.
Dédalo confeccionou dois pares de asas, usando penas de gaivotas e cera de abelha, para ele e para seu filho. Antes de deixarem a ilha, Dédalo avisou ao seu filho não voar próximo ao sol, pois o calor derreteria a cera, nem tão rente ao mar, pois a umidade deixaria as asas mais pesadas levando-o a cair no mar. Graças à enorme liberdade que o voar deu a Ícaro, este cruzou o céu, mas, não se limitou a uma trajetória mediana e com audácia se aproximou do sol, que derreteu a cera. Ícaro se manteve batendo as asas, mas logo se deu conta que já não lhe sobrava qualquer pena e que ele estava batendo apenas os seus próprios braços. E assim, Ícaro caiu no mar na região que recebeu o nome dele – o mar Icário próximo a Icaria, uma ilha a sudoeste de Samos.
Escritores helenísticos que deram sabedoria filosófica ao mito também preferiram mais realidade à ficção: deixar Creta por água, e Dédalo criou os primeiros barcos, para Minos possuir galeras, e que Ícaro caiu a caminho da Sicília e se afogou. Hércules construiu um túmulo a ele.
Desde então, se fertilizaram no imaginário de gerações romances de aventuras como os de Júlio Verne, (1828-1905), escritor francês considerado o pai da ficção científica. Seu primeiro sucesso foi Cinco semanas num Balão (1863). Com seus fantásticos romances como Viagem ao centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Vinte mil léguas submarinas (1870), Ilha Misteriosa (1870) e Volta ao mundo em 80 dias (1873) previu várias descobertas do século 20 e excitou o interesse dos leitores com suas histórias de aventuras científicas. Suas obras ficcionais foram fontes para muitos filmes.
Estas leituras nos fizeram escritores. Pessoalmente exemplifico com três historinhas, que escrevi inspiradas talvez em Júlio Verne, produtos de um período gostoso que me deleitava em narrativas para meus filhos. Uma viagem a lua, onde dois meninos constroem uma pandorga e chegam a lua; A moto voadora, na qual uma menina põem duas asas de isopor em uma moto e sobrevoa Porto Alegre; e, Um tratado de paz, quando dois meninos tomam um elixir que os reduz de tamanho e eles conseguem entrar em formigueiro para celebrar um acordo com formiga-rainha. As duas primeiras foram premiadas em concurso nos anos 80 e publicadas em antologias.
Mas, já direcionando minha fala a conclusão quero encontrar outra dimensão para a ‘ficção científica’ fugando talvez da proposta deste painel. A direção poderia até ser inspirada em um livro que li em minha juventude e do qual não tenho mais notícia: E a Bíblia tinha razão, do alemão Werner Keller; mas minha análise e a direção são opostas as teses do livro. Vou ousar ser tachado de blasfemo em uma cidade que traz no nome a marca de sua religiosidade.
Mas antes me protejo e trago algumas salvaguardas. O conhecimento apresentou-se/apresenta-se de diferentes formas no processo histórico. Os humanos milenarmente tentam compreender o mundo em que vivem e a si mesmo, enquanto se consideram inseridos nesse mundo natural. A Ciência não foi /não é a única maneira de revelar o conhecimento produzido e também de produzi-lo. Antes dela, e com ela, existiram/existem outras: os mitos, o pensamento mágico, as religiões, o senso comum, os saberes primevos. Usualmente faço extensa discussão acerca do foco presente em cada um destes seis óculos. Gostaria de poder fazer aqui e agora, mas isso monopolizaria mais tempo, quando já me faço latifundiário.
 Aqui não se elege a Ciência o melhor dos óculos para ler o mundo natural e muito menos se defende a exclusividade de um dos seis mentefatos culturais citados. Vou olhar alguns relatos religiosos, não com os óculos das religiões, mas o óculo da Ciência. Lateralmente afianço que um e outro dos dois óculos têm focos diferentes. As religiões têm uma exigência fulcral: a fé e Ciência usa a razão.
No meu livro A Ciência é masculina? É, sim senhora! mostro como os mitos se constituíram / se constituem como se fossem livros sagrados de muitas culturas. Se olharmos especialmente os relatos mitológicos gregos e como ‘se construíam’ os seus deuses isso fica por demais evidentes. Diferentes povos têm suas cosmogonias em seus relatos fundantes. Há aqueles que consideram as assim chamadasrevelações divinas’, como aquelas que estão, por exemplo, na Bíblia judaico-cristã como míticas.
Amanhã, provavelmente a continuação — com um segmento mais ‘desabilitador’ — trago a terceira e última parte. 

2 comentários:

  1. Maravilhosa palestra, traz-nos a sensação de presença.Seu relato coerente de tema tão polêmico prende a atenção e fomenta a curiosidade de saber mais.Mitos e lendas transformam-se em verdades absolutas de acordo com a conveniência de cada povo. Na leitura de "Os Deuses do Eden" de Wiliam Bramley podemos observar bem esta mistura.

    abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Mestre Chassot tem sagaz tendência
    De com labor, técnica e paciência
    Expor seu pensamento
    Do feliz casamento
    Entre os demais saberes e ciência.

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