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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

27.- AGORA, O TEMPO DO MUNDO DE VERDADE



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2035

Uma segunda-feira de verdade. No Rio Grande do Sul, diferente de muitos outros Estados, hoje é o dia em que são retomadas as atividades escolares, agora com presença dos alunos. Portanto, por primeiro e acima de tudo: uma muito boa volta às aulas a cada uma e cada um.

Do ponto de vista cultural a Gelsa e eu fizemos um encerramento do Ano Festivo (período anterior ao primeiro domingo pós-carnaval), como chamou, aqui, ontem o Jair Lopes: Assistimos ‘direto’ do Royal Opera House de Londres a ópera Tosca de Giacomo Puccini, que se passa em Roma em 17 e 18 de junho de 1800. Tivemos a companhia de Guy Barcellos e no cinema estávamos, também, juntos com a Liba e a Sílvia. Mesmo que eu tenha uma incipiente cultura operística, frui muito o espetáculo, parecendo-me um expectador privilegiado junto com o público que assistia o desempenho de excelentes artistas em uma das mais famosas casas de ópera do mundo. Foi um espetáculo muito rico.
Eu começo esta manhã com uma turma de Conhecimento, Linguagem e Ação Educativa para o curso de Música. Este semestre, além das manhãs de segundas-feiras, terei aula na graduação do Centro Universitário Metodista do IPA, nas noites de terças-feiras da mesma disciplina para o curso de Educação Física e de Historia e Filosofia da Ciência para o curso de Ciências Biológicas.
Neste fevereiro trabalhei em parceria com o jornalista Marcos Gregório Fernandes Gomes em uma entrevista que será publicada na revista Quanta de São Paulo. Foi algo que implicou um assumir posturas.
A proposta da Quanta — explicitada em www.revistaquanta.inf.br — “é falar diretamente ao professor que atua na Educação Básica nas áreas de ciências naturais, servindo como um material de referência alternativo, que colabore de forma complementar para a sua formação e o inspire para novas práticas didáticas. Sem, no entanto, investir na fórmula do receituário sobre o que e como trabalhar em classe, opção de resto já satisfeita por outros veículos. Quanta fala de ciência respeitando o rigor conceitual necessário para entendê-la sem simplificações, mas quer, ao mesmo tempo, enfatizar a ciência como caminho do homem para viver melhor e compreender melhor o universo”.
Das 13 perguntas, que envolvem mais de três laudas, autorizado pelo Marco, em comemoração ao ‘voltas às aulas’ apresento uma ‘palhinha’ por meio de duas perguntas — a quarta e a última —. Nesta está contida a resposta que dei a um aluno do ensino fundamental que me perguntava na última quinta-feira, qual o ‘material escolar’ mais importante, quando da volta às aulas.
Qual a importância da alfabetização científica, que vantagens nos traz o conhecimento do método científico para a vida prática?
Há uma metáfora elucidativa: quais as limitações vivenciadas por um cidadão analfabeto num mundo governado por normas escritas? Numa sociedade ágrafa (sem o uso da escrita ou representação gráfica) ser analfabeto não determina desvantagem nenhuma e mais, ser alfabetizado pode ser até desvantajoso, pois provavelmente este terá dificuldades em reter fatos “de cor”. Mas na nossa sociedade ser analfabeto é doloroso, é ser um excluído, quase um pária. Aliás, nos sentimos analfabetos quando estamos em culturas que usam outra língua ou diferentes caracteres. As estações de metrô de Moscou (Rússia) podem ser as mais lindas do mundo, mas preciso um guia para me traduzir as legendas que contam as histórias representadas nos imensos painéis. Se eu me perder nas ruas de uma cidade chinesa, terei imensa dificuldade para chegar ao hotel.
Se detenho alfabetização científica, isto é, se eu entendo (um pouco) a linguagem em que está escrita a natureza, eu saberei explicar por que o leite derrama quando ferve e saberei encontrar artifício para que a leiteira não transborde. Se eu sei por que sabão remove a sujeira, saberei explicar por que duas ou três gotas de detergente fazem mais efeito na lavagem de louça que duas ou três colheres; ou por que o xampu não faz efeito quando temos o cabelo molhado com água do mar. Assim, ser alfabetizado cientificamente – e, eu só trouxe alguns pequenos exemplos, quando poderia escrever um livro só para responder esta pergunta – nos ajuda estar num mundo que é ‘resolvível’ com a linguagem da ciência.
Quanto à importância do método científico, vale ler o que respondi para a pergunta anterior. O método que aprendemos com o físico inglês Francis Bacon (1561-1626) e que é reproduzido nos manuais de ciências que fazem a iniciação no ensino fundamental é apenas um dos métodos científicos. Feyerabend nos fala na pluralidade de métodos. Nós no cotidiano usamos muitos métodos diferentes e todos são “científicos”.
É possível fazer uma cartilha de tópicos, um decálogo do pensamento cientificamente correto? 
Meu decálogo seria um unólogo. Não sei com se chamaria uma “tábua da lei” que tivesse apenas um mandamento. Minha proposta teria apenas uma norma. E essa seria uma antítese daquilo que mais ouvimos enquanto crianças: “Menino, não seja curioso!” “Menina, não seja curiosa!”. Minha cartilha ou norma teria apenas uma diretriz: “Seja curioso!” 

4 comentários:

  1. Meu querido companheiro de mais um período de férias,repartir contigo a vida me faz extremamente feliz! Que possamos viver com a mesma intensidade este 2012 acadêmico que agora, sim, começa! Te amo. Gelsa

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  2. Caro Chassot,
    pelo comentário da Sra. Gelsa não poderias iniciar de forma mais auspiciosa um semestre letivo.
    Chegaremos ao tempo em que a alfabetização será dispensável para se viver, de forma cidadã? As novas alternativas de comunicação imagéticas poderão substituir os meios gráficos de registro da memória?

    Votos de um novo semestre repleto de desafios acadêmicos!

    Garin

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  3. Caro Chassot,
    Teu exemplo de analfabetismo idiomático quando nos deparamos com escritas em caracteres desconhecidos, dá a medida exata de como deve se sentir o analfabeto. Todas as vezes que me deparo com idiomas em alfabetos estranhos sinto a angústia dos analfabetos, passo a ser uma sombra do que sou, me sinto pior que qualquer um que sabe ler aquilo que desconheço. Abraços, JAIR.

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  4. Meu amigo,

    foi ótimo estar na ópera contigo e Gelsa. Temos de repetir!

    Recém li a crônica de hoje, passei o dia no Museu da Natureza, retomando as atividades.
    Teremos novidades, mais adiante tas contarei.

    Um bom recomeço a todos nós empenhados na alfabetização científica.

    Grande abraço,
    Guy.

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