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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

15.- Internet no Brasil: realidades e esperanças

Porto Alegre * Ano 5 # 1657

A segunda-feira diferente teve à noite uma adesão à pratica do Hemisfério Norte: a celebração de São Valentin, o padroeiro dos namorados. Esta foi entremeada com despedida do Ronaldo, o Fenômeno com sua quase trágica declaração: “Perdi para meu corpo” e o acompanhamento da sessão atabalhoada da Câmara dos Vereadores que aprovou a Fundação de Instituto para gerir a saúde.

À tarde fiz um retorno ao Centro Universitário Metodista do IPA, também envolvido em uma nova disciplina que vou lecionar na graduação: Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa. É no ano do cinquentenário fazer estreias.

Já escrevi e falei em palestras o quanto precisamos diminuir a brecha cada vez maior que se estabelece entre os que têm acesso ao conhecimento e os marginalizados. Hoje a diferença ente pobres e ricos – pessoas e países – não só que os pobres tenham menos bem, mas é que estes têm menos acesso ao conhecimento. Temos de diminuir o número daqueles que ainda pertencem ao Movimento dos Sem @rroba (isto é, não tem um endereço eletrônico). A tentativa de fazer isso passa a ser política do novo governo da República.

Responsável por iniciativas bem-sucedidas como o Programa Computador para Todos, Cezar Alvarez domina como poucos a infraestrutura complexa da internet. No oitavo andar do Ministério das Comunicações, o secretário executivo do Ministério das Comunicações, está à vontade no governo de Dilma Rousseff. A pedido da presidente, permaneceu no comando do Plano Nacional de Banda Larga, com a missão de reestruturar a Telebrás. Atualmente, ele domina como poucos a linguagem por vezes hermética da complexa infraestrutura da internet.

A iniciação de Cezar Alvarez começou com o programa Computador para Todos, onde foi tão bem-sucedido que mais tarde foi designado para coordenar todas as iniciativas de inclusão digital desenvolvidos pelo governo. Nesse pacote, estavam os programas Computador Portátil para Professores, a ampliação dos telecentros comunitários para acesso à internet e o Um Computador por Aluno, versão tupiniquim das ideias do guru digital Nicholas Negroponte, autor de quem Alvarez se tornou um leitor voraz.

Eis realísticos e também animadores excertos de entrevista de Cezar Alvarez publicada no caderno Dinheiro de Zero Hora na edição do último domingo:

Mercado atual De cada 100 brasileiros, não mais do que 6,4 acessam a internet. Uma internet que, em mais de 50% dos usuários, não chega a 1 mega de velocidade, a um preço médio de R$ 50 – um preço caro para o padrão aquisitivo do brasileiro. Quando a gente enche a boca para dizer que temos mais celulares do que cidadãos... somos o 112º ou 113º no uso de celular. Nosso uso médio de celular não passa mais do que R$ 5 por cidadão.

A recriação da Telebrás A Telebrás era um estatal que estava em extinção. E isso criou um clima de ideologização, pois podia ser a negação da política de privatização. Mas temos seis grandes linhas de atuação: regulação, redistribuição de frequência, digitalização, abertura para operadores de serviços das redes, desagregação de redes e redistribuição de canais.

Democratização de acesso à rede Vamos dar aos pequenos provedores acesso às grandes redes e democratizar o mercado. São mais de 2,7 mil detentores de licença de comunicação multimídia, pequenos provedores que têm dificuldade de ter acesso a preço razoável, por causa dos grandes monopólios, das empresas que são donas das redes originalmente privatizadas.

Acesso A banda larga brasileira é para poucos, 40% está em São Paulo, 63% está no Sudeste. É cara porque tem preço média de R$ 50 para uma qualidade e capacidade muito pequena. Além disso, o sinal da Telebrás é 512 kbps, mas para no máximo parta 10 compradores. Então, às vezes tu compras 256 kbps – olha que tem 300 ligados naquela torre, então não há sinal que resista. Ai o cara diz: ‘entra às 3h da manhã de domingo que o sinal vai estar bom...’

Briga com as teles Algumas teles entraram na Justiça, mas outras não. Nós estamos em negociação com algumas empresas de telefonia móvel que estão loucas para se associar conosco. As pequenas, nós já temos mais de 24 giga encomendadas junto a Telebrás, por parte 600 dos pequenos e médios provedores. Mas não vamos disputar com a operadora lá na ponta. Somos um estruturador do atacado.

Competição Nós estamos trabalhando para oferecer rede no atacado. Já definimos um teto de preço. Não vamos cobrar mais de R$ 250 por 2 mega de capacidade. O operador de comunicação que quiser comprar da estatal, pagará no maximo esse preço. Como contrapartida, terá de vender ao consumidor final 512 kbps por no máximo R$ 35. Em alguns lugares muito competitivos, como São Paulo, provavelmente isso já está sendo vendido a R$ 300. Mas lá no interior do Piauí custa R$ 1,5 mil. Claro que é mais caro chegar lá, mas não tem competição.

Metas Até 2014, o preço médio que hoje é R$ 50 deve ser de R$ 35. E passar de 20 milhões de domicílios para 40 milhões de domicílios, sempre com 512 kbps. É pouco, mas primeiro é preciso dar capilaridade e abrangência à Telebrás. Depois vamos dar mais velocidade.

Wi-fi Eu resisto a esse modismo de dizer: ‘uau, tenho rede grátis aqui no meu aeroporto’. Mas vamos pensar na rodoviária de Brasília, ou de Porto Alegre. A pergunta é a seguinte: o pessoal tem cada um o seu telefone 3G, 4G, ou o seu micro para acessar? Se você simplesmente pensar em rede, separada de um lugar público, separada de serviços públicos e de equipamento barato, não dá. Por isso o nosso projeto de inclusão digital começou no programa Computador para Todos. Era a ideia de fazer computador mais barato, depois computador para professor, depois notebook mais barato, e acho que conseguimos.

Animado com esta expectativa, votos de uma muito boa terça-feira. Para amanhã um convite para um novo encontro.

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